Fernanda Lanza conta detalhes para superar Maratona de Boston e projeta futuro no esporte
A baiana Fernanda Lanza esteve entre os 592 brasileiros que completaram a tradicional Maratona de Boston, realizada no dia 21 de abril, nos Estados Unidos. A atleta cruzou a linha de chegada em 3h21min, ficando com a posição 10.348 da classificação geral, depois de enfrentar temperaturas baixíssimas e um percurso desafiador.
Considerada como um dos maiores palcos do mundo das corridas, a 129ª edição da Maratona de Boston contou com 31.941 inscritos. Em 2025, atletas de 129 nações diferentes representaram seus países.
Em 2013, a corrida ou por um episódio triste. O atentado à Maratona de Boston aconteceu a poucos metros da linha de chegada do trajeto, ocasionando a morte de três vítimas e deixando mais de 200 feridos.
A maratonista soteropolitana está escrevendo sua caminhada no esporte. Além da maratona de Boston, Lanza completou outras corridas, em Salvador e no Rio de Janeiro. A capital baiana serviu como laboratório para que ela se preparasse para o capítulo nos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva ao Bahia Notícias, Fernanda falou sobre o início da sua trajetória nas corridas, a preparação para a prova mais importante da carreira e os próximos planos.
Foto: Alana Dias/Bahia Notícias
Você começou a correr com o objetivo de se tornar uma atleta profissional?
Comecei a correr na pandemia, como muita gente. Com tudo fechado, correr era a única atividade física possível. Inicialmente foi por estética, para perder peso, mas fui vendo minha evolução e me empolgando. Um professor de CrossFit me viu correndo e ofereceu ajuda com planilhas de corrida. A partir daí comecei a fazer distâncias maiores, até que corri meus primeiros 42 km por conta própria, antes mesmo da volta das provas oficiais. Com meu treinador atual, Choquito, já fiz cerca de seis maratonas. Rio, Salvador, outras locais e agora Boston.
Como foi o processo de preparação especificamente para a maratona Boston?
A preparação começou em janeiro e durou pouco mais de três meses. É um volume muito maior do que em outras provas. Foi difícil porque em Salvador é verão, tem carnaval, calor, e eu estava treinando praticamente sozinha. A diferença climática era o meu maior medo. Uma semana antes da prova, chegou a nevar em Boston. No dia da maratona estava muito frio. Foi tão difícil que fui direto para o posto médico depois da linha de chegada. Quase tive uma gastroenterite de tanto frio. Foi a prova mais difícil que já fiz.
Você imaginava ar por tudo isso durante a prova em Boston?
Não. Fiz a primeira metade bem, mas depois o frio aumentou, a sensação térmica caiu e parecia que o corpo travava. Cruzei a linha de chegada tremendo. Fui direto para ser aquecida com botas térmicas, bebidas quentes e roupas secas. Não fiz meu melhor tempo, mas terminar Boston já foi uma conquista. Foi incrível. Não fiz meu melhor tempo, mas terminar Boston já foi uma conquista. Foi incrível.
Você pensa em correr outros percursos majors?
Com certeza. Já tenho índice para Boston e Chicago. As outras são por sorteio. Talvez tente uma dessas no ano que vem. Agora quero focar em provas de 21 km. Gostaria de correr Berlim, Tóquio ou Londres. Tóquio talvez seja a mais difícil por conta do fuso e da adaptação. Tenho o objetivo de completar as provas majors e conquistar a mandala. Há um ano eu nem pensava nisso, mas veio após a Maratona do Rio, quando consegui o índice, eu lutei para estar lá. Mas há um ano atrás eu nem sonhava com isso.
Foto: Divulgação
Você acredita que teremos mais brasileiros na maratona de Boston?
Com certeza. Eu acho que a maratona de Boston de todas as Majors é a mais desejada pelos corredores. Vem se popularizando muito, tanto que nesse ano, para se inscrever além do tempo de qualificação, tem um tempo de corte. Não basta ter o tempo de qualificação para conseguir a inscrição. Nesse ano, fora o ano que voltou da pandemia, que foi uma quantidade reduzida de inscrições, esse o tempo de corte foi mais alto por conta disso. Antes os tempos de corte eram de 2 minutos e pouco, 3 minutos e pouco. Esse ano foi 6 minutos e pouco. Então, muita gente ficou de fora por questões de segundos. Na minha opinião, a tendência é que esse tempo de corte aumente. Tanto que para o ano que vem os tempos de qualificação já diminuíram.
De alguma forma, o atentado que ocorreu na linha de chegada da Maratona de Boston em 2013 te deixou receosa?
Em relação à lembrança do atentado de Boston em 2013, não senti nenhum receio. A prova tem uma segurança impecável. Há policiamento por toda parte. Me senti segura o tempo todo. Hoje é uma prova muito bem organizada, uma segurança onde você olha e tem alguém da polícia.
Qual mensagem sobre a prática esportiva você a para as pessoas?
O esporte muda vidas. Você começa por estética ou saúde, mas descobre que vai além: melhora a mente, a autoestima. É uma prova de que você é capaz de fazer o que achava impossível. Correr virou parte de mim, uma terapia. O pódio é consequência da disciplina. Não é só questão de competir, de ganhar troféu, de ir para pódio, é a questão de estar ali se superando, fazendo coisas difíceis que você acha achou que nunca faria.