Estilista baiana Adriana Meira une religiosidade e ancestralidade em moda autoral
Foi em Brumado, no sertão da Bahia, que a estilista e diretora criativa Adriana Meira começou a bordar seus caminhos na moda. Filha de uma professora e de um caminhoneiro, cresceu entre a caatinga e as montanhas da Chapada Diamantina. Uma paisagem seca, mas fértil em histórias. Foi ali que nasceram as primeiras referências que, décadas depois, tomariam forma no ateliê que leva seu nome, fundado em 2014.
“A história dos ancestrais, o sertão, a espiritualidade, religiosidade” é o fio que conduz a criação da estilista e que faz de cada peça um gesto de memória e identidade. A Bahia aparece em suas roupas com suas múltiplas camadas, nas cores, nos tecidos e nos símbolos que remetem às religiões de matriz africana.
Em conversa com o BN Hall, Adriana contou que a curiosidade e o orgulho de ser baiana e nordestina, apresentado em cada peça, vêm de sua origem rural, marcada pela vida no interior e pelos saberes populares. “Desde criança, eu sabia que era a moda meu caminho. Só não sabia exatamente como, por viver no interior e entender as dificuldades de o. Sempre me inspirei em minhas avós como costureira e bordadeira. Meus avôs também, mesmo sem conhecê-los: um era sapateiro e o outro teve loja de tecidos e costurava gibões e sandálias para vaqueiros”, contou.
Aos 18 anos, ela se mudou para Salvador para estudar Moda. Antes mesmo de se formar, começou a trabalhar com confecções, ando por empresas de jeans, moda feminina e alfaiataria masculina. Mais tarde, seguiu para Brasília e São Paulo, onde trabalhou em marcas como Cavalera e Vanessa Montoro. Esta última, conhecida por peças de crochê artesanal com linha de seda, foi uma de suas principais referências na decisão de abrir seu próprio ateliê.
No início, Adriana criava peças simples, como batas, camisetas e vestidos com aplicações pontuais. A aproximação mais clara com a religiosidade se deu algum tempo depois, em especial a partir de uma colaboração com a também estilista baiana Isa Isaac Silva. Juntas, desenvolveram peças que traziam bordados com orixás e outras entidades espirituais.
Ela também compartilhou, na conversa, que a espiritualidade sempre foi uma presença marcante em sua trajetória, mesmo antes de ela perceber isso com clareza. “Quando eu era criança, ia sempre a uma novena na casa de uma vizinha que tinha um paredão de santos. Lá, eu me sentia protegida. Sempre amei esse simbolismo, mesmo que de forma inconsciente”, destacou.
Segundo ela, essa conexão com a religiosidade está presente tanto na vida quanto na criação artística. “Atravessa a minha vida e meu trabalho com pertencimento, que me faz estudar e vivenciar diariamente esse contato. Tenho alguns altares no ateliê, sou muito visual e isso influencia quando desenho os orixás, santos, deuses e entidades”, afirmou.
O ateliê, que completa 11 anos em dezembro de 2025, mistura moda artesanal e referências religiosas com bordados feitos à mão, exaltando o sertão, o sagrado e a ancestralidade. As peças já foram destaque em revistas como Vogue Brasil e Marie Claire, além de terem sido usadas por artistas como Preta Gil, Letícia Colin e Dadá Coelho. “Essa força que o meu trabalho tem, sendo apreciada por pessoas tão especiais, é um afago no coração. Pensar nessas artistas incríveis usando é uma grande vitória. Me sinto grata e feliz”, destacou.
Recentemente, a marca apresentou sua nova coleção em um desfile exclusivo no Hotel Refúgio da Serra, em Mucugê, na Chapada Diamantina, e ela destaca que é apenas o início. “Projetos novos são muitos, mas ainda estão amadurecendo. Em breve vem novidade”, completou.
As peças estão disponíveis para pronta entrega no próprio hotel e na loja Concierge Fashion Trancoso, em Porto Seguro. Também é possível comprar por encomenda pelo Instagram da marca.